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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quem foi adolescente aborrecente?

CRÕNICA


       Digam-me as pessoas mais ou menos na casa dos 40 a 50(ou mais ou menos), no seu tempo você foi um adolescente  aborrecente?
       Os cinquentões e cinquentonas certamente dirão, mas que adolescência, o que?!  Nessa tal idade já estávamos na labuta, não havia tempo para os tais momentos de “aborrecência”. O pai e a mãe davam logo um jeito arrumando uma forma de acalmar os hormônios e os chiliques. Havia água pra tirar do poço e encher o tanque pra mãe lavar roupas, ir cortar vassoura pra varrer o terreiro lá no “Campinho da Antena”; moer milho pra fazer quirela pros pintinhos e galinhas no pátio, arrancar e cortar mandioca pros porquinhos no chiqueiro. Pras meninas que terapia maravilhosa! Lavar louças e bombrilar as panelas que eram penduradas ora no paneleiro de parede, ora no paneleiro de escadinha decorado com toalhinhas de crochê e bordados”, amassar o pão, lustrar a casa...
      Quem diria! Tarefas domésticas era terapia em nosso adolescer. Ninguém nunca nos aconselhou no tempo da “curvatura da vara”, psicólogo, psiquiatra ou coisa que o valha para resolver “problemas” na adolescência. Afinal, tais profissionais moravam em nossa casa sem nada entender de Freud e seus adeptos.
      E os adolescentes, estigmatizados de “aborrecentes”, hoje, (eta palavrinha feia!),  quando insistiam em suas “crises”, havia um remédio mais drástico: buscar ele mesmo na casa da vizinha uma varinha de marmelo, cujos pais a preparavam frente aos possíveis infratores, lentamente..., passando-lhe óleo de cozinha e rapidamente no fogo, depois a penduravam numa das paredes da cozinha bem a vista de todos. Quebrou promessa, a varinha comia solta nas pernas.  E como doía!(assim diziam os peraltas). Eu nunca a experimentei, mas a consumi muitas vezes para longe das vistas de meus pais para que ela não entrasse em cena lá em casa nos meninos que teimavam em fugir e ir nadar no Rio Marmeleiro, algo sempre denunciado pelas comadres olhudas que viam tudo, inclusive, a garotada doidivanas nadando nus, para não molhar a roupa e se denunciar em casa.
     E todos entendiam  imediatamente a  mensagem. Na escola nunca um pai ou mãe afirmou: - “Não sei o que fazer com meus filhos”. “Chamem o Conselho Tutelar’ (naquele tempo, a Polícia). A varinha comia solta nas pernas dos pobres garotos de calças curtas e para completar, ir à missa confessar esses e outros pecadinhos; nada de vestir a roupa domingueira, nada de cinema. Havia castigo pior do ficar sem ir à matiné de domingo no Cine Norodi? Não assistir ao filme de Tarzan ou de farwest? Bater os pés no chão ao som do tropel de cavalos, gritos de índios e tiros dos bandidos e mocinhos?
       Nessa época ainda não se ouvia falar de violência nos filmes e direitos humanos. Os gritos do Tarzan voando de galho em galho, índio flechando e sendo morto pelos mocinhos que manejavam habilmente o revólver e carabinas, a chegada da cavalaria americana para salvar o FORT, era motivo de diversão e gritaria no cinema...   Subentenda-se que não tínhamos as tecnologias que as crianças e adolescentes têm atualmente. O cinema era a mais saudável diversão da criançada e adultos dos idos de não tão antigamente.
       Deixando de lado as reminiscências, apesar de tudo, pais não foram acusados de omissos. Pais e filhos tinham seus problemas resolvidos na família. Havia hora e tempo pra tudo. Regras e valores a serem cumpridos e respeitados. Isso era castigo? Maldade? Tudo depende dos conceitos de vida, da educação que recebemos e de nossa visão de mundo nessa análise.
        Em tal época, crianças e adolescentes tinham compromisso de estudar e estudar porque não havia nos programas de governo merenda, transporte, livros e outros benefícios que se recebe hoje na escola e famílias
. Tudo saía do bolso dos pais que exigiam aprovação na escola através de horários para estudar, cumprimento das tarefas de casa e frequência às aulas.
         Pobres, como muitos atualmente, batalhavam para dar “estudo” aos filhos porque acreditavam que este lhes daria uma vida melhor. Era o compromisso deles com  o futuro do filho.
         Se houve pais que não deixaram os filhos estudarem quando eu era adolescente, não me lembro. Lembro-me sim, das exigências da família quanto a isso. Também não me lembro de tantos filhos em idade “aborrecente”, sem perspectiva, jogando a vida fora e vivendo apenas o momento - conforme eles mesmos afirmam.
       Os tempos eram outros, é claro. Porém, será que algumas lições do passado não precisam ser retomadas? Que tipo de “varinha de marmelo” os pais poderiam usar hoje?
        Naturalmente, não sou favorável à violência física. Escrevi apenas  algumas reflexões sobre um passado distante onde os conceitos de educação familiar eram outros. Mas o que fazer agora para que os adolescentes não se tornem tão “aborrecentes” a ponto de serem execrados pela sociedade?
        Acredito ser uma tarefa árdua para pais e educadores num tempo em que os direitos se sobrepõem aos deveres.

                     

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