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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

OS FORASTEIROS

Terras sem fronteiras,
fronteira do Sudoeste
assim ouvi falar.
 Pequenina nos meus cinco anos
   vim parar - na terra  de “gringos”
chamados italianos
apreciadores de polenta  degustada com leite
de radiche do mato catado pelas mãos
das crianças a brincar quando ainda a Natureza
não era explorada...
e sobrava mato pra todo lado...
Crianças buscavam entre sombras das samambaias
os radiches verdinhos
sabor único que marcou minha infância...
O cheiro da polenta na chapa do fogão
da boa vizinha italiana
O gosto dos prazeres oferecidos pela terra
poeirenta que afundava-me os pés nos sonhos
esconderam-me o medo na pequenina casa
chamuscada pelo fogo dos tais revoltosos.

Lá em Pranchita o medo imperava.
E pela fome de pão chorava as pequenas almas.
O que restava, então?...
O contrabando.
No lombo de um burro, alguns homens atravessavam, cautelosamente, as águas da divisão e trazia-se a “harina” pra fazer o pão pros meninos que choravam,
 sem entender a guerra e a solidão.

No fundo da casa chamuscada - um poço!
Pras crianças sem medo
debruçarem-se, perigosamente,
e gritarem – Papai, onde está você?!...
Silêncio.
Poço das almas nobres!?...
Da água escura lá no fundo
que saciava os sonhos e os gritos d’alma
- Pai, papai, papaiii!...

Espingardas, fuzis, mosquetões.
Armas afogueadas que, pipocava sangue
na luta contra a jagunçada.

Papai, soldado, inocente,
 sem saber que revolta era essa
de Curitiba aqui veio pra ficar.
Armas ombro
 E na bagagem a família pra sustentar.
Fincou os pés neste chão
honrando a profissão.

A luta pela terra
no Sudoeste se fez
dor,
morte,
assassinatos, tudo duma vez.
O rico solo, vermelho se transformou
pelo sangue dos mortos e mutilados,
 ela regou.

Hoje no Sudoeste
já não reina o terror
do tempo da jagunceira
E da falta de amor.
Quando o que valia era a cartucheira
por detrás da trincheira
molhando a terra na sangueira
na chacina carnificeira
dos bandidos sem carreira
cuja lei era espalhar o pavor!
Desalmados pistoleiros que
amedrontavam posseiros
sem piedade nem dó.
Sua lei era à bala
 emboscados na vala
planejavam sepulturas
dos que lutavam com bravura
em defesa da terra.

Nessa desvairada luta
Posseiros,
Jagunços,
Milícia,
Forasteiros,
Construíram sua história
a história de um povo
que o Sudoeste transformou.