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domingo, 20 de abril de 2014

As rainhas do lar

Crônica



            Ao sairmos da sala onde houve discussão sobre o gerenciamento da família e, consequentemente, dos filhos, percebeu-se que a tarefa ainda é árdua para muitas mulheres, apesar de estarmos no século XXI.
            Postamo-nos incrédulas, na situação apresentada sobre o comentário de uma delas do quanto se sentia em dificuldade para equilibrar o trabalho que exercia fora do lar e seus “deveres de dona de casa”. Marido e filhos não lhes davam descanso. Nada de colaboração no lar: porque homens não podem fazer nenhuma tarefa doméstica. “Isto é coisa de mulher”.
            Segundo a Psicóloga Lígia Guerra “muitas vezes a própria mulher colabora para este conceito, pois faz distinção em casa entre as tarefas dos meninos e das meninas”. Meninas ajudam a lavar a louça, limpar a casa, etc., meninos ficam na sala com o pai vendo televisão ou jogando vídeo game.
            Dias atrás um aluno me falou: “lá em casa, minhas irmãs são da mãe; eu e meus irmãos somos do pai. - É assim pedagoga, vamos “co” pai ao futebol e pescar. A mãe vai passear “co as” meninas no shopping e fazer as unhas. Suspirei. E empreendi uma conversa X. Outro me disse: “Minha mãe não trabalha”. Como assim, interpelei. – “Ela cuida da casa e faz comida”. Mais um: - Ah, pedagoga, “minha mãe, não faz nada”. Só dorme no sofá. “Nós temos que fazer o serviço”. – Verdade? Explique-me: - “tenho um irmão que”... bem, a mãe não consegue dormir à noite pra cuidar dele”.
Esses depoimentos são fictícios, mas servem para ilustrar os acontecimentos de algumas realidades presentes nas famílias e da mulher mãe.
            Atualmente ainda perduram “as rainhas do lar”, expressão que surgiu durante o século XVII entre a burguesia.  Resgatei-a desses velhos tempos em que a mãe era submissa ao marido e nem tinha direito de amamentar os filhos. E a trouxe para o tempo que a família era a “célula da sociedade”, conceito empregado nos livros de Educação Moral e Cívica, 1969, em pleno regime militar. (Em 1970, disciplina obrigatória nas 5ªs e 6ªs séries do curso ginasial).  A mãe, batalhadora por seus direitos no mercado de trabalho, mas tímida e ainda submissa e responsável de educar e ensinar os filhos - encontrava-se encarcerada -, embora já se estivessem “queimados os sutiãs em praça pública”, e a pílula surgira milagrosamente como sinônimo de liberação sexual e controle da natalidade.  A onda do feminismo(movimento social, filosófico e político queria libertar a mulher de padrões opressores baseados em normas de gênero.  O pai, historicamente, figura austera cujo papel era impor sua vontade e por ordem no lar, paralisou-se por alguns tempos na sociedade, isto é, descaracterizou-se, frente a essa nova realidade aos moldes femininos, cuja primeira onda teria ocorrido no século XIX e início do século XX, a segunda nas décadas de 1960 e 1970 e a terceira da década de 1990 até a atualidade. (Wikipédia. A enciclopédia livre).
            Após as reflexões históricas já conhecidas, volto à personagem que me fez escrever esta crônica. As mulheres presentes no momento das considerações se voltaram imediatamente ao “pobre”. E as análises e conceitos surgiram.
 Mas, a coisa cheia de graça realmente aconteceu quando após a reunião, cada uma compara o próprio marido com o da outra em relação ao esposo da minha personagem. Maridos mais ou menos maravilhosos devido a este ou aquele desempenho doméstico, eram enumerados. E consideraram-se as bem-amadas profissionalizadas.  Os risos se sucederam...  Já não são “Amélias” (?!).
Imagine leitor, eu, solteira, no meio de tantos risos e agraciamento das bem-casadas. Sorriso a meia boca, sem graça, ria não sei de quê.  Na verdade uma anônima ali, circunstancialmente.   Meio sem graça, disse-lhes: - “Meu pai quando nasci dispensou “a comadre” que vinha dar banho em mim. - “eu mesmo banho minha filha”... E tomou conta da casa, da mulher e da filha, isto em 1952.

Saí de fininho da sala, pois todas se divertiam com seus próprios comentários sobre os cônjuges bem-amados e não machistas, as rainhas do lar, as bem-amadas. Quem iria dar atenção às colocações de uma mulher solteira - por opção - sobre as qualidades de um homem – pai, além do seu tempo?     

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